domingo, 27 de novembro de 2011

Tenho Face, logo existo.

   
     Em terras francesas, no auge do século XVII, René Descartes fundava o que conhecemos hoje como Ceticismo Metodológico, segundo o qual devemos duvidar de cada ideia que não seja suficientemente clara. Sem mais blá blá blá, o conceito criado pelo distinto filósofo pode ser resumido pela famosa frase: penso, logo existo.

      Ora, amigos, René falou isso porque não viveu no século XXI. Caso vivesse nos tempos de hoje, sua ciência provavelmente tomaria um outro rumo. Pardon moi, René, mas hoje esse negócio de pensar não tá com nada.

      Hoje, para existir, basta criar gratuitamente um perfil na rede social de Zuckerberg. É daí que advém, portanto, a sua identidade. A sua construção como sujeito, como diria nosso amigo Freud, depende diretamente da popularidade do seu perfil:

“Tenho 1000 amigos, logo existo”
“Estou namorando, logo existo”
“Compartilho vídeos, logo existo”
“Tenho 3457 fotos, logo existo”
“56 curtiram meu status, logo existo”
“Meu perfil é mais badalado que o seu, logo existo”

      Sua existência já não depende mais daquilo que pensa, mas daquilo que você escreve no seu Face. Ela – a existência - passou a estar intrinsicamente ligada àquilo que os outros comentam no seu perfil. E - cá entre nós - desses, quantos realmente se importam com quem você é ou com como você está? Algum deles já te viu sem maquiagem? E aquele braço musculoso da foto? É realmente seu?

      Solteiro, casado, enrolado ou celibatário. Sua vida amorosa está no Face! Sua formação acadêmica, a quantidade de línguas que fala e – até mesmo! – os livros que você já leu estão lá expostos na vitrine. Sim, na vitrine. Não é isso que o Facebook, é? Pensa comigo: mulheres esquálidas, homens fortinhos, cores, roupas, bebidas, sapatos e eventos. Não é essa a felicidade vendida por lá? E, ouso dizer mais, nessa  enorme vitrine, mais importante que ser feliz é ser mais feliz que você.

      Todo mundo se vende, todo mundo se compra. E, como hoje é tudo muito popular, a preços baixinhos. Peraí, mas não é esse o princípio dos sites de vendas coletivas: muitos produtos, muitos clientes, preços baixinhos? Não seria o Facebook um grande site de vendas coletivas? Bem, a resposta para isso, fica para um outro texto.